quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Meninos choram sim! E jogadores de futebol também!

Vi inúmeras reportagens que tratavam o choro dos jogadores como uma fraqueza, um despreparo, e os argumentos eram embasados no fato de que, na posição de defensores de todo um país, deveriam se manter fortes.
Agora, vem cá.
Imagina as Olimpíadas. Teremos inúmeras atletas mulheres defendendo o Brasil. Se elas chorarem vocês acham que vai ser o mesmo ba-fa-fá?
Óbvio que não. 
Todo esse rebuliço se resume a uma crença social: a de que homens (diga-se, machos) não choram.
Aí você diz: “Ah, mas vocês vêem a questão do gênero em tudo, mimimi”.
Então.
Digitei no google “jogadores Brasil choram” e só na primeira página apareceu: “Jogadores choram após deixar escapar o sonho do hexa”; “David Luiz chora após derrota do Brasil e pede desculpas por goleada histórica”; “Jogadores choram após a derrota contra Alemanha”; “Drama, tensão e alívio: jogadores choram antes e durante as penalidades”; “Por que os jogadores brasileiros choram tanto?”.
Ou seja: se eles tivessem saído xingando, a notícia seria apenas: “Brasil perde para Alemanha”, porque xingar é “natural do macho”. 
Cansei de ver psicólogo meia boca escrevendo besteira sobre isso, e endossando o aspecto “absurdo” dos jogadores terem chorado.
Esse trecho de Maia e Maia (2009) fala em outros termos sobre isso:
"As questões de gênero dizem respeito às relações de poder que existem e se exercem entre as pessoas, de acordo com seu pertencimento a determinado gênero; diz respeito às diferentes formas de valorizar ou desvalorizar  determinadas características associadas aos gêneros e, também, a estereótipos e preconceitos relacionados a eles. Tais noções, normas, valores, ideais e concepções, tal como o próprio conceito de gênero, são construções sociais que se transformam na história".
Ou seja:
Jogadores do Brasil = Homens
Homens = Estereótipo de força
Estereótipo de força = Não podem chorar
Jogadores do Brasil = Não podem chorar
Isso é uma tristeza. Em grande parte advém de que, para a publicidade anterior aos jogos, foi conveniente divulgar uma imagem de jogador-macho-alfa. E ter que quebrá-la após o jogador-que-tem-sentimentos foi um choque.
O próprio início de jogo mostrando os jogadores com cara de mau cruzando os braços na apresentação é uma construção engraçada. Substituída, ao final do jogo, pelos abraços, soluços e consolos. 


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