segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Dalai Lama e o Mito da Beleza

Há dias em que felizes coincidências acontecem. 
Enquanto estudava um livro da Naomi Wolf, chamado “O mito da beleza” fiz uma pausa, entrei na internet e me deparei com a nota publicada por Nathalí Macedo para o Geledés sobre o recente comentário público de Dalai Lama (que pode ser vista integralmente aqui)
Aí, pumba! A relação entre uma coisa e outra foi inevitável...


A Nathalí escreveu: "Dalai Lama é um guru. Ganhador do prêmio Nobel da Paz, com um discurso de igualdade e declaradamente feminista: em tese, um homem em que se pode confiar. Por isso mesmo minha surpresa descontente com sua última afirmação: Dalai gostaria de ser sucedido por uma mulher atraente. ATRAENTE. Ele poderia querer ser sucedido por uma mulher sábia, espiritualizada ou socialmente comprometida. Mas quando se fala de mulheres – seja lá qual for o assunto – há muitas outras coisas que são lembradas e mencionadas em detrimento de nossa própria condição humana. Somos julgadas – para o bem ou para o mal – primeiro por sermos mulheres, e depois por sermos seres sociais como quaisquer outros [...] E mesmo nas situações mais cotidianas e banais ser mulher tem um preço: se cometemos uma imprudência no trânsito, ninguém grita através da janela “IMPRUDENTE, IRRESPONSÁVEL!” O som é quase sempre o mesmo: Puta! [...] O que eu espero da sucessora de Dalai Lama é alguém que – atraente ou não – enxergue que mulheres são muito mais que beleza e graciosidade, e que a plenitude espiritual passa inevitavelmente pela ideia de igualdade e respeito. E que mostre ao mundo – como muitas de nossas companheiras já têm conseguido – que mulher nenhuma precisa ser atraente para assumir o seu papel no mundo".

Nesta nota, Nathalí fala sobre a supervalorização da beleza em detrimento de outras características da mulher – justamente o que Naomi Wolf denominou “O mito da beleza”, em 1991. 
A feminista norte americana fez uma relação muito interessante sobre o crescimento da mulher enquanto figura ativa no cenário sócio-econômico e o aumento de distúrbios de alimentação, cirurgias plásticas, consumo e pornografia. Segundo comenta, “trinta e três mil mulheres americanas afirmaram a pesquisadores que preferiam perder de cinco a sete quilos a alcançar qualquer outro objetivo”. E ainda que “existe uma subvida secreta que envenena nossa liberdade: imersa em conceitos de beleza, ela é um escuro filão de ódio a nós mesmas, obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle”. Não é nada difícil ver essa característica em nosso cotidiano: olhemos para nós mesmas e para os outdoors, revistas e filmes: o desespero está estampado.

Este tal mito da beleza substituiu outros mecanismos de controle históricos de forma eficaz, pois embora estejamos muito mais inseridas no mercado de trabalho e nos movimentos como um todo, continuamos aprisionadas a este julgamento estético. Ele  “se fortaleceu para assumir a função de coerção social que os mitos da maternidade, domesticidade, castidade e passividade não conseguem mais realizar. Ela procura neste instante destruir psicologicamente e às ocultas tudo de positivo que o feminismo proporcionou às mulheres material e publicamente”. Isso significa, em termos práticos, que até pode ser que uma mulher seja considerada uma boa monja, solidária, inteligente e habilidosa em liderança, mas ainda assim deve ser atraente – enquanto nunca ouvi uma única palavra sobre a careca ou a pancinha de Dalai Lama.

Mas o Mito da Beleza não é somente sobre aparência: “Na realidade sempre determina o comportamento, não a aparência. A juventude e (até recentemente) a virgindade foram "bonitas" nas mulheres por representarem a ignorância sexual e a falta de experiência. O envelhecimento na mulher é "feio" porque as mulheres adquirem poder com o passar do tempo e porque os elos entre as gerações de mulheres devem sempre ser rompidos. As mulheres mais velhas temem as jovens, as jovens temem as velhas, e o mito da beleza mutila o curso da vida de todas. E o que é mais instigante, a nossa identidade deve ter como base a nossa "beleza", de tal forma que permaneçamos vulneráveis à aprovação externa, trazendo nosso amor-próprio, esse órgão sensível e vital, exposto a todos”. Ele é um chute em nossa autoestima e segurança que nos força a emitir uma porção de comportamentos em busca do ideal.

Essa busca nos ocupa; e esta ocupação com a beleza é um “trabalho inesgotável porém efêmero que assumiu o lugar das tarefas domésticas, também inesgotáveis e efêmeras”. Inclusive para mulheres ocupadas o suficiente com outras tarefas, como figuras públicas e líderes. Sobre isso, Naomi comenta: Quando se atrai a atenção para as características físicas de líderes de mulheres, essas líderes podem ser repudiadas por serem bonitas demais ou feias demais. O resultado líquido é impedir que as mulheres se identifiquem com as questões. Se a mulher pública for estigmatizada como sendo "bonita", ela será uma ameaça, uma rival, ou simplesmente uma pessoa não muito séria. Se for criticada por ser "feia", qualquer mulher se arrisca a ser descrita com o mesmo adjetivo se se identificar com as idéias dela. As implicações políticas do fato de que nenhuma mulher ou grupo de mulheres, sejam elas donas-de-casa, prostitutas, astronautas, políticas ou feministas, podem sobreviver ilesos ao escrutínio devastador do mito da beleza, ainda não foram avaliadas por inteiro. Portanto, a tática de dividir para conquistar foi eficaz”.

Quer dizer, as táticas de dividir estão tentando ser eficazes. Porque se depender de nós, não passarão – viu, Dalai Lama? Mesmo vindo de você, pessoa que fala coisas bonitinhas sobre a vida e que eu compartilhava no Instagram. Hun. 

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Diversidade em Pauta

Juliana Ramos, jornalista da TV UNESP, convidou a mim e ao Heitor Miranda para participar do programa Artefato. Ela nos perguntou "E como podemos combater a esse preconceito sobre a diversidade". 
Respondo: Ju, colocando ela em pauta, você já está fazendo e muito! :)

Para assistir clica aquiiii.