sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sobre baratas e pessoas imprevisíveis

Esta noite eu estava dormindo um sono gostoso, profundo. Fui pra cama cedo e não tinha acordado nenhuma vez - promessa de horas bem dormidas. 
Eis que por volta das três e meia da manhã eu senti uma cócegazinha no pescoço. Em geral é muito difícil acontecer de eu acordar e ligar a luz, mas dessa vez eu fiz isso - obrigada universo! Era uma barata no meu pescoço! 
Sem pensar muito joguei ela pro lado e dei um pulo pra fora da cama. Peguei o aerosol e o chinelo e fui pra cima dela quando...cadê?
Sumiu.
Procurei o máximo que pude e não a encontrei em nenhum lugar. 
Óbvio que depois de toda essa novela eu não ia voltar a dormir na minha cama, por isso fui para o sofá. Deitei. Senti umas coceiras e todas elas eram uma forte ameaça.
Resumo da história: já são 5 horas e eu ainda não consegui dormir.

Mas não é sobre a angústia noturna da barata que eu vim escrever. É da ideia que ela me deu.

Outro dia alguém* me disse que o grande problema das baratas é que elas são descontroladas. Você nunca sabe para onde vão, se voam, se são mutantes, etc. 
Fica com um SBP e um chinelinho na mão sem entender muito bem o que fazer. 

Isso gera uma ansiedade louca do tipo:


Acontece que nós precisamos de previsibilidade pra nos sentirmos seguros. Necessitamos saber basicamente o que vem a seguir para ter alguma sensação de controle que nos permita relaxar um pouco. 

Essa ansiedade, essa coisa esquisita que deixa a gente em estado de alerta e defensiva também pode ser sentida quando estamos interagindo com pessoas imprevisíveis.

No dia-a-dia chamamos isso de "pisar em ovos".
"Eu vivo pisando em ovos com aquela pessoa" - porque nunca se sabe quando eles vão quebrar. 

Conviver com pessoas imprevisíveis é muito ansiogênico. 
Vira e mexe eu vejo uns textos falando sobre a importância da novidade, da surpresa, do diferente. Mas sinceramente acho delicioso conviver com gente previsível e honesta.

Não estou dizendo que é super fácil ser uma pessoa que se comporta sempre de maneira parecida ou ter um ótimo autocontrole. 
Mas podemos nos esforçar para tornar claros nossos limites, nossos desejos, como iremos agir em determinados momentos. Isso faz com que o outro possa se organizar e saber como se comportar com relação a nós. 

Ficou triste? Explica em um momento adequado.
Ficou feliz? Expresse.
Chateou? Mostre a razão e peça para que não aconteça de novo. 
Gosta? Deixa claro.
Não gosta? Deixa claro também. 

Importante fazer isso com frequência. Deixar acumular pra falar tudo de uma vez torna mais difícil. Quando ruminamos uma ideia abrimos espaço para fantasiar sobre ela, mirabolar hipóteses que não fazem o menor sentido na realidade.
Mais importante ainda: fazer com assertividade. Falar honestamente levando em consideração os sentimentos do outro.

Pelo amor de nossas relações, sejamos menos baratas! 


(Obs: obviamente que eu estou descobrindo essas coisas porque tenho sido uma pessoa imprevisível e sem um padrão frequente de comportamento que faz as pessoas ficarem tristes ou sofrerem por isso. Talvez esse texto seja mais um auto-lembrete que qualquer outra coisa).


*Não me lembro quem foi a pessoa que me disse sobre as baratas serem descontroladas. Se for você, me avise! Merece créditos por essa constatação astuta! :D