terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Revista Ler & Saber Autismo :)

A Revista Ler & Saber, da Editora Alto Astral, faz edições especiais de temas como o Autismo. Eu tive a grande sorte de poder participar da elaboração do último número - conversei com a Karina Alonso e ela transformou o que eu disse em linguagem de revista! :) 
Algumas palavras são diferentes, como o uso de "graus de autismo", mas é importante aprender a dialogar com públicos diferentes do acadêmico - afinal de contas é pra isso que a gente estuda! 

Gratidão! :)
Pra ter acesso à revista toda: Loja da Editora Alto Astral








CINE-AUTISMO: PSICOLOGIA EM CONSTRUÇÃO E SOCIEDADE EM DESCONSTRUÇÃO

O Cine-Autismo é meu xodó! 
Primeiro porque foi possível criar, por meio dele, uma rede de apoio, escuta e troca de informações com pessoas criativas e queridas sobre este tema tão intrigante que é o autismo.
Em segundo porque o CRP Bauru abraçou carinhosamente a ideia e viabilizou a existência do cine - gratidão por isso!
Em terceiro porque unir cinema e psicologia é sempre uma boa ideia! 
E em quarto porque ele atraiu comunicadoras cuidadosas que quiseram falar sobre isso:


Ler aqui :)


Com exibição do filme Rain Man, palestra e debate com temática em linguagem, o autismo é exposto e repensado
Karina Francisco
7
São escolhidos temas de interesse e dúvida geral, filmes de fácil acesso e o evento é aberto tanto para profissionais e graduandos em psicologia quanto interessados em geral uma vez por mês (Foto: Daniele Fernandes)
Às 19 horas da última quarta-feira (9), no Conselho Regional de Psicologia de Bauru (CRP), realizou-se pela terceira vez o Cine-autismo: Psicologia em Construção. O filme escolhido foi Rain Man, de 1988, para abrir o debate sobre a linguagem com pessoas que tem transtorno do espectro do autismo (TEA). A palestra sobre o assunto foi ministrada pela psicóloga Bárbara Trevizan Guerra, mestra em linguagem pela Unesp de Bauru.
No primeiro encontro, foi exibido o filme Mary e Max e discutido, com Ana Carla Vieira, a história do TEA e os critérios de diagnóstico atuais. No segundo, foi a vez de Temple Grandin, e participação de Helen Cazani discutindo sobre inclusão. Como disse Ana Carla Vieira, psicóloga mestranda da Unesp e curadora do cine-autismo, “a ideia é discutir, estamos construindo algo para os estudos de autismo na psicologia, que são relativamente novos, de maneira atrativa e séria.”
O Filme Rain Main
8
O filme Rain Man retrata o cotidiano de autistas e a maneira que interagem no meio social. Foi vencedor de 4 Oscars, incluindo melhor filme (Foto: Divulgação)
Com a exibição do filme Rain Man, grande marco da época em que não se falava sobre o assunto, fica bem exemplificado como as pessoas com TEA se comportam. Após a morte do pai, Charlie (Tom Cruise) descobre que a herança não foi destinada a ele pelo pouco contato que tinham. Querendo descobrir quem era o beneficiário, Charlie descobre que tem um irmão, Raymond (Dustin Hoffman), que é autista e estava internado em uma instituição especializada. Charlie sequestra-o a fim de conseguir sua herança.
Em uma longa viagem até Los Angeles, Raymond mostra uma habilidade matemática com grande velocidade e precisão além de uma excelente memória e Charlie aprende a lidar com o irmão até então desconhecido de maneira menos preconceituosa e com mais cuidado. Emocionante, o filme mostra todas as dificuldades e características das pessoas com TEA.
Palestra e debate
Com exemplos de cenas retiradas do filme, Bárbara Guerra explica a análise do comportamento verbal e como se dá a aquisição da linguagem nos TEA. O personagem Raymond apresenta rigidez comportamental, dificuldade de lidar com mudanças repentinas na rotina, dificuldade em aceitar coisas novas, preferência pelos mesmos objetos, falas repetitivas, déficit de comportamento intraverbal (diálogos) e ecolalia (repetição de palavras ou frases), que são características autistas. Com isso, Bárbara esclareceu de qual forma se estimula e ensina a habilidade da linguagem para pessoas com TEA.
9
Ainda não há um consenso sobre a origem e as causas do autismo, mas os estudos têm crescido e existem hoje alguns indícios genéticos e bioquímicos, ou seja, funcionamento diferentes em algumas partes do cérebro (Foto: Karina Francisco)
Assim, discutiu-se sobre o que é comportamento verbal e sua crença de que é apenas oralidade, quando na verdade existe comunicação por fichas, gestos, braile, escrita, pensamento e seleção de imagens de objetos. Bárbara explica que “com crianças atípicas, ocorre uma diferença na aquisição da linguagem em relação às crianças típicas”. Elas não relacionam as palavras de maneira fluente, portanto é importante debater sobre manejo do comportamento verbal, os repertórios alternativos, a comunicação intraverbal (diálogo), muito importante para socialização. “O segredo para manejar o comportamento é a consistência, a insistência.”, finaliza Bárbara.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) 
10
O debate gerou em torno de como lidar com autistas e dicas de ensinamento e estimulo, além de caracterizá-los (Foto: Karina Francisco)
Existem 1,5 milhões de pessoas com TEA no Brasil. Bárbara Guerra o define como “um conjunto de déficits e excessos comportamentais. (..) É uma condição atípica de desenvolvimento que não é determinante, ter autismo não significa que futuramente você terá determinado comportamento”.
Pessoas com TEA são caracterizadas por ter dificuldade com relações sociais, não sabendo como se expressar ou interpretar outras pessoas. Apresentam um ótimo raciocínio lógico, discurso repetitivo, dificuldade de ler sinais sociais, formalidade em sua linguagem, dificuldade em expressar sentimentos. É uma questão de estímulo, pois seu aprendizado e desenvolvimento exigem maior apoio e atenção. São três características principais observadas: dificuldade de comunicação, dificuldade de especialização e movimento e interesse repetitivo. Assim, há uma grande variedade de características e habilidades dentro da deficiência.
Além da dificuldade nos estudos sobre o transtorno, há também a falta de discussão e consequente desconhecimento sobre o TEA na sociedade, que gera preconceito, desinteresse e falta de apoio. A conscientização e divulgação sobre o tema é importante, pois, quanto mais cedo for diagnosticado, maior a estimulação da potencialidade do indivíduo com a intervenção precoce. Portanto, é importante ficar atento ao desenvolvimento infantil, os pais devem sempre procurar estimular ao máximo seus filhos na comunicação e no aprendizado.
11
O TEA apresenta níveis leves, moderados e graves, o que pode interferir na autonomia do indivíduo (Foto: Daniele Fernandes)
Bárbara acredita que “com as condições adequadas de ensino todos podem aprender, podem superar as expectativas.” E como conclui Ana Carla, “para falar de autismo, precisa-se mostrar que existe mais de um tipo de espectro. É múltiplo, e existe uma potencialidade, não apenas o déficit. Se olharmos para o que a pessoa com TEA não tem, não se chegará a lugar nenhum. (…) Costumamos olhar apenas a deficiência, a falta, e deixamos de lado as habilidades pessoais de cada um”.
Serviço
Em Bauru, existe atendimento para pessoas com TEA dentro da APAE, no Centro Especializado em Autismo e Patologias Associadas (CEAPA), na Associação dos Familiares Amigos e Pais dos Autistas de Bauru (AFAPAB) , além da programas na SORRI e a terapia ABA. Além disso, a cidade tem pesquisas no Centrinho da USP e no Programa de Psicologia da Unesp.