A menina adolescente moradora de abrigos acumula estigmas: sofre os efeitos do machismo, da falta de apoio\políticas públicas para adolescentes e das incertezas que significam estar sob
tutela do Estado.
A situação dos abrigos brasileiros, em geral, é precária. As moradoras, cujas idades variam de poucos meses a 18 anos, estão institucionalizadas por razões diferentes e inúmeras. Enfrentam desafios junto aos funcionários e funcionárias que lutam cotidianamente por melhorias. Uma dessas dificuldades - que pode parecer secundária para algumas pessoas - reside no fato de que, sem condições para serem autônomas financeiramente e sem recursos para obter objetos de consumo, essas meninas vestem o que dá. Nem sempre o que escolheram, ou o que melhor expressa como gostariam de ser vistas.
Refletindo sobre tais pontos surgiu uma ação: uma pequena doação de roupas para um grupo de meninas abrigadas em Bauru. Eu a disparei: propus que os amigos do facebook separassem as peças e
as busquei em suas casas. Até aí, corriqueiro.
Mas quando fui separar as roupas por categorias, desvirar as que estavam
do avesso e dobrá-las, percebi algo muito interessante: eram peças incríveis.
Peças notavelmente bem cuidadas, cheirosas, algumas com etiquetas. Peças de
todos os tamanhos e jeitos, estilos, e grande parte delas certamente ainda seria usada por suas donas.
Sapatos, pulseiras, bolsas também entraram na dança, assim
como sutiãs, biquínis e calcinhas. As doadoras separaram carinhosamente aquilo que doaram, o que me surpreendeu.
Surpreendeu porque eu costumava ver a doação como meio de "passar pra frente" o que "não serve mais". Mas minhas parceiras de
campanha não, elas viram como algo muito mais profundo.
Então, este é um pequeno post de agradecimento: pelas 21 meninas, que certamente gostaram das roupas novas, e por mostrarem que carinho e cuidado cabem em todos os lugares.
Abaixo, fotos da ação, e de algumas peças.
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Apaixonantes! |
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Muitas ideias... |
Gratidão à Isabela Santilli e sua amiga Raissa Moraes, Kele Silva, Maira Bittar Galdi, Ana Carolina, Ana Claudia Bortolozzi (Cau) e suas filhas Bruna e Beá, Celina Adreila e Isabela Florindo.
Gratidão à minha mãe Silvia e minha irmã Aninha que me ensinaram que doar e receber deve ser algo natural, e ao Lucas que além de fotógrafo, motorista e companheiro, deu uma baita ajuda pra levar tudo pro abrigo. E, claro, à Flávia, psicóloga admirável que fez fermentar a ideia inicial. Juntos e juntas vamos conquistando com nossas pequenas açõezinhas :)
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