segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Camisinhas antipáticas: o dia que eu pesquisei sobre a Skyn, da Blowtex, e descobri um monte de outras coisas

A camisinha é necessária? (sim)
É um dos métodos contraceptivos mais seguros? (sim)
Ajuda a não contrair Doenças Sexualmente Transmissíveis? (sim)
As pessoas usam? (...ham...mais ou menos...)

(mais da metade dos brasileiros não usa preservativos, de acordo com pesquisa)

Por quê?

Pois bem: essa pergunta estava martelando em minha cabeça. Outro dia conversando lá em casa chegamos à conclusão (nada espantosa) de que as pessoas não usam camisinha por diversos motivos. Minha mãe, particularmente a melhor pessoa do mundo na minha opinião, disse logo a verdade: as pessoas não usam porque é chato. 
Se nós temos tecnologia pra chegar  a Marte; cura pra várias doenças super complexas... por que raios não fazemos uma camisinha que as pessoas usem? 
Parece óbvio, mas não é. 

Por isso fui pesquisar sobre o assunto! 
Descobri que as pessoas já tiveram ideias parecidas e estão tentando inventar coisas mirabolantes, como o spray-camisinha
Nenhuma muito viável até então. 
No meio dessas pesquisanças da vida, descobri 4 coisas:

1) De acordo com os sites, camisinha é "papo de homem"

Eu sei que quem usa camisinha masculina é quem tem o pênis e que o bem estar dos homens é super importante neste assunto. E é mesmo! 

MAS: não somente o deles. 
Me incomodou um tanto perceber que, ao digitar "Skyn Camisinha" no google apareceram os sites: El Hombre, Macho Moda, Papo de Homem. Quando os links indicavam sites alternativos, estavam nas sub-áreas Homem, Coisas de Homem ou Masculino.
(Ah, reparem também que é comum no supermercado ou na farmácia os preservativos e lubrificantes estarem nas alas "Homem" ou "Masculino").

Isso não é uma frescura, é um problema. 
Imagine que você é uma adolescente interessada em iniciar sua vida sexual ou super curiosa sobre sexualidade. Como é muito comum, não tem com quem tratar esse assunto e resolve pesquisar na internet ou dar uma olhada nos produtos em lojas. O que você descobre? Que isso não é coisa para saber e/ou opinar. 

Mas é. 



Além disso, é difícil encontrar informações científicas sobre camisinhas, questões como materiais, resistência, alergias ou dados. Na internet o que se encontra são os sites que descrevem os "test-drives" dos preservativos, propagandas e sex shops. 

Estamos falhando brutalmente na divulgação de informações sobre isso - e depois dizemos que os adolescente são "desinformados", "sem-vergonha" ou "burros". NOT!

2) A história da camisinha é antiga
Vamos falar de datas! Segundo o site do Terra,

"A história da camisinha é muito mais antiga do que se pensa - afinal, desde muito cedo, homens e mulheres descobriram que a atividade sexual trazia alguns inconvenientes, como a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis. Há mais de 3000 anos, a arte egípcia já mostrava figuras de homens com algum tipo de envoltório no pênis. Há quem fale de peles de animais, mas não se sabe de que material eram feitos. Na Europa, as primeiras evidências do uso de camisinha são pinturas nas cavernas de Combarelles, na França.
A origem histórica da camisinha foi em 1500, quando o anatomista italiano Gabrielle Fallopius inventou uma espécie de "saco de linho" para proteger seus pacientes da sífilis. Como o método inventado por ele funcionou, e as pessoas perceberam a possibilidade de usar a camisinha para evitar a gravidez, seu uso se popularizou e cresceu muito por volta do ano 1700, quando as camisinhas passaram a ser feitas de um material mais fino: membranas de intestino de carneiros. Mas foi em 1843, quando o revolucionário processo de vulcanização da borracha, inventado por Hancock e Goodyear, possibilitou a produção em massa de preservativos, que eles se tornaram realmente mais populares e baratos. Em 1930, o látex líqüido substitui a borracha, e ainda é o material mais usado na fabricação de camisinhas. Nos anos 90, as novas tecnologias possibilitaram a produção de camisinhas cada vez mais sofisticadas, como as de poliuretano, mais finas e sensíveis."

Ou seja, não foi ontem que descobrimos a tecnologia das camisinhas. Tem um tempo já.

3) A tal Skyn é uma invenção maravilhosa
A Skyn é uma linha da Blowtex cujo lema se destaca logo na embalagem: Sensação de usar nada (espertinhos eles, né?). Esse preservativo é feito de poliisopreno (que, pelo que entendi, é um material sintético que não contém látex natural - coisa ótima pras pessoas que têm alergia, aproximadamente 5% da população mundial). Segundo o site oficial, proporciona “Sensibilidade incomparável/material quase imperceptível”.

Simmmmmmmmmmm.
Ela diminui a sensação de "não contato".
Os problemas acabaraaaaaaaaaaaaaaaaaaam. 

Ham...ainda não.

É claro que a lógica do mercado não ia deixar barato (literalmente) a existência de uma camisinha menos incômoda. O pacote com 6 unidades custa em torno de R$12 nas farmácias. Pensando no Brasil hoje, quem pode desembolsar R$2 a cada relação sexual? 
Pouca gente, né?
Pobres excluídos de novo.


Essa é a tal camisinha tecnológica! 
4) As pessoas não estão usando muito camisinha e se deixarmos como está, não vão mesmo usar.

Vamos considerar algumas coisas importantes!

Primeiro: as pessoas têm histórias individuais e razões específicas para usarem/não usarem camisinha. Entretanto, existem dados coletivos que alarmam: a maior preocupação do Brasil hoje, sobre o HIV/AIDS, é a infecção entre jovens.

Pensando em termos de contingências individuais, têm-se uma relação que não é difícil de imaginar: fazer sexo sem camisinha traz reforçadores imediatos poderosos (contato mais próximo, prazer maior, etc). Os pontos negativos de fazer sexo sem camisinha além de serem a longo prazo (gravidez demora ao menos um mês pra ser descoberta; DST mais que isso ainda) são probabilidades e não consequências certas
Fazer sexo com camisinha, por outro lado, diminui os reforçadores imediatos (embora ainda estejam ali), mas eliminam quase completamente a possibilidade de gravidez ou doenças

Dá pra pensar que uma das possibilidades seria aumentar o reforçador imediato no sexo com camisinha, ou seja, melhorar o material para que ele seja menos "estranho". 
Estamos caminhando pra isso com essas tecnologias novas, Skyns e afins.
Mas a quem essas camisinhas são destinadas?

Quem já experimentou os preservativos distribuídos gratuitamente em postos e hospitais percebe que, embora seguros, podem ser muito grossos e desconfortáveis (não é que eu não ache a política de distribuição de preservativos boa - é excelente termos avançado nessa direção). Mas entristece saber duas coisas:

I. As camisinhas tecnológicas e gostosinhas continuarão acessíveis somente para uma parcela pequena da população. Para grande parte das pessoas, elas continuarão sendo antipáticas e chatas de usar.

II. As políticas públicas de saúde ainda não aprenderam a ouvir o que os dados sobre comportamentos têm a dizer acerca dos números que eles não estão sabendo interpretar.

Em outras palavras: o não-uso da camisinha vai continuar sendo considerado uma questão individual. Se uma pessoa engravidar sem querer ou contrair uma DST a responsabilidade vai ser colocada somente sobre ela - embora muito provavelmente não tenha tido muita ajuda pra aprender sobre o assunto.
Fechar os olhos e moralizar é mais fácil que analisar o problema como ele se escancara. 

Nós, educadores, dizemos para os alunos: "Usem camisinha", "Encapem", "Se cuidem", e é  muito importante continuarmos fazendo isso. 
Mas quantos de nós de fato fala sobre isso com eles? Ensina a colocarem "a mão na massa" e treinarem, com modelos sintéticos ou até mesmo formatos geométricos parecidos com o pênis, como se faz? 

Colocar camisinha é um comportamento novo para muita gente, e assim como nadar, dançar, escovar os dentes, precisa ser modelado*. Sabe-se muito bem que a colocação inadequada dela pode gerar estouro ou deslocamento - mesma coisa que usar nada.


Pênis artificiais compõem kits preventivos distribuídos por algumas prefeituras ou que podem ser comprados em sites de educação sexual, como a Semina. Em muitas escolas, ficam guardados porque os educadores têm vergonha de usar.

O que acontece na prática é que soltamos algumas dicas gerais no ar, fazemos umas propagandas nada explícitas ou claras sobre o assunto (especialmente pra quem ainda não entende direito) e achamos que isso vai mudar os comportamentos.
Uma propaganda de carnaval com um monte de gente dançando e um pacotinho colorido de camisinha na mão significa alguma coisa, de fato, para as pessoas?
Vai modificar seus comportamentos?




Às vezes nossas intenções de educação e prevenção são ótimas, mas nossas ações são muito esquisitas.



*Modelado: existe um procedimento de ensino chamado modelagem que consiste basicamente em ir ensinando comportamentos sucessivamente mais próximos daquele que se pretende obter no final. Para escovar os dentes, por exemplo, podemos começar ensinando a pessoa colocar pasta na escova, depois a escova dentro da boca fazendo movimentos repetitivos, e assim por diante. Quando ela errar, corrigi-la e ensinar como é o correto; quando acertar, reforçar seu comportamento para que continue ocorrendo daquela forma. No caso da camisinha, podemos primeiro ensinar como abrir o pacote sem danificar o conteúdo, como segurar a ponta e puxar o preservativo para baixo sem deixar entrar ar, como retirar de forma que o sêmen não vaze, e assim por diante. 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Casamento?!

A Paulinha, jornalista da Tribuna de Araraquara, me escreveu dizendo que o número de casamentos na cidade vem ultrapassando amplamente o número de divórcios...
Este é um dado sem dúvida muito interessante, e achei legal ela ter escrito sobre isso! 

Daí ela me perguntou se eu podia escrever um pouco sobre também...e foi assim: